Eu não estou aqui para criar uma chuva de termos técnicos, que por sua vez se expandiria em uma tempestade de definições inúteis na sua mente, não é a toa que você nunca lembra onde colocou a chave do carro. Logo, levando isto em consideração, “já deu pra sacar” que estas três configurações – ISO, diafragma e obturador – não são embromação.

Se você acabou de desempacotar a sua primeira câmera DSLR, a segunda coisa que você precisa saber é a correlação entre estas três funções, então vamos começar pelas suas definições.

ISO – Em DSLRs, ISO é a sensibilidade do sensor. Quanto mais sensível o sensor mais fácil será para você gravar vídeos sem ruídos durante situações com luz escassa, como por exemplo, a noite (duh!). Pegando como exemplo a Canon Rebel T3i (com o sensor ASP-C, o mesmo da T2i, 60D e 7D), é aconselhável que você não use ISO acima de 800. Aliás, mesmo em 800 ISO o ruído é considerável, mas muitos dizem ser algo semelhante a “film grain” ( o ruído produzido por filme-película, a razão pela qual tantos cineastas ainda filmam em filme).

Quanto mais alto o ISO, mais sensível o sensor em relação a luz  e consequentemente mais iluminado o seu vídeo será. Para a Canon 5D por exemplo, que possui um sensor maior, você pode elevar o limite do ISO para até 1600.

OBTURADOR – No caso, a velocidade do obturador (em inglês, shutter speed) é a rapidez com que o obturador abre e fecha, permitindo e limitando assim a quantidade de luz que invade o sensor da câmera. Na Canon Rebel T3i, este número varia entre 30 e 4000 para a função vídeo. Trinta, sendo 1/30˚ (um trigésimo) de segundo, o que significa que o obturador abre e fecha trinta vezes em um segundo.

Quanto maior a velocidade do obturador, menor a quantidade de luz que entra na câmera, logo mais nítida será a sua imagem. Para fotografia, este fator é muito mais relevante do que para a videografia. Para a gravação de vídeos, a dica é manter a velocidade do obturador 2x (duas vezes) maior que o número de quadros por segundo (frames per second, em inglês). Ou seja, se você está almejando atingir o famoso “film look” (a aparência do filme-película) você estará gravando o seu vídeo em 24 qps(fps) e com a velocidade do obturador em 50 (pois a câmera não oferece opção para 48). Se você estiver filmando em 30 fps (“vídeo look”), o obturador deverá estar programado para 60, e assim por diante.

DIAFRAGMA – Não, eu me recuso a fazer alguma piada com o método diafragma, então, prosseguindoO diafragma, ou melhor, a abertura do diafragma, é definida pelos números “f-stop” – ou “t-stop” na cinematografia. O tamanho desta abertura varia com a lente, para confundir, quanto maior o número, menor a abertura. Estes números normalmente variam entre f/1.2 até f/22. Óbvio, quanto maior a abertura mais luz atingirá o sensor e mais iluminadas serão suas fotos.

Mas o que não é tão evidente a princípio, é que quanto maior a abertura, menor a profundidade de campo. A profundidade de campo (“depth of field” ou DOF) é a quantidade da sua imagem – referindo-me a profundeza – que permanece em foco. Quanto maior é a abertura do diafragma, menor será a profundidade de campo, e vice-versa, quanto menor o diafragma, maior a profundidade de campo, ou seja, maior parte da sua imagem estará em foco. A imagem abaixo é do curta-metragem Bait-n’-Switch que dirigi no semestre passado para a faculdade. Como filmei durante a noite, optei por usar uma lente rápida, que traduz em uma lente que oferece uma maior abertura do diafragma, neste caso f/1.4 (não se esqueça, quanto maior a abertura menor o número).

Como você pode notar acima, apenas a Laura (a atriz da direita) está em foco, o tráfego, a sua direita, e a Alejandra (a atriz contracenando com ela na esquerda) estão ambos fora de foco, o que leva os nossos olhos em direção a Laura.

Muitos cinematógrafos compram adaptadores que enfatizam ainda mais este efeito “shallow depth-of-field”, profundidade-de-foco raso, emulando câmeras de 35mm. É um efeito que a galera do mundo DSLR adora usar mas não é algo que você deva abusar. Muitas vezes você quer incluir o fundo na imagem, assim como um ou mais personagens em foco e ao mesmo tempo manter a mesma quantidade de luz.

Existem duas maneiras – fora a adição de luz na sua cena – de combater uma profundidade de campo rasa, a primeira é intuitiva, aumentando o ISO, mas como você leu acima, ao aumentar o ISO você também aumenta a quantidade de ruído na imagem. A outra forma é, utilizar lentes de anglo amplo (wide lenses), que são lentes abaixo de 50mm.

Opa, o sinal tocou, é hora do recreio! Parabéns, você acaba de concluir a primeira aula do Curso de Cinema. De nada!

Não se preocupe, com pouco tempo tudo isto torna-se instintivo. Antes que alguém pergunte, a câmera utilizada no curta foi a Canon Rebel T3i e a lente na imagem acima foi a Sigma 30mm f/1.4, e não, não posso dar o telefone de nenhuma das duas garotas.


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